terça-feira, 3 de março de 2020

Figueira das Lágrimas


Estrada das Lágrimas, números 515 a 537, no bairro do Sacomã, que no século XIX ainda era Ipiranga.

Grande, bela e poderosa, que proporciona ótima sombra, uma árvore nobre, "das Lágrimas" não é designação popular de alguma espécie de figueira, mas sim uma referência aos sentimentos manifestos por diversos habitantes da cidade de São Paulo que, despediam-se de amigos e parentes e seus filhos que partiam para lutar na Guerra do Paraguai.

A árvore, tão simbólica, é uma figueira nativa da família botânica Moraceae, espécie Ficus organensis mas sobre seus galhos se sobrepõe os de outra figueira, exótica, que nasceu a seu lado, do gênero Ficus benjamina. São duas figueiras que coabitam o mesmo espaço.
 A figueira Benjamina brotou ali no ano de 1977, quando a outra agonizava e estava prestes a ser derrubada, acreditando tratar-se de um broto da mesma árvore, agentes da prefeitura hesitaram em derruba-la, e ela foi poupada do corte iminente e se recuperou. 
Sobre isso, em janeiro de 1978 a Revista Claudia nº 196 publicou o artigo que segue, parcialmente transcrito:
"... Neste ano a figueira foi condenada. Seus galhos pendiam, perigosamente, sobre casas e pessoas da estrada. A data da morte dependia, apenas, de uma assinatura; estava escrito que todos os esforços seriam inúteis para salvar sua vida. Mas a Secretaria das Administrações Regionais em vez de ordenar o corte, resolveu esperar, consultar autoridades. Uma atitude nova, onde, até meses atrás, qualquer árvore poderia ser derrubada sem dó nem piedade. Nesse sentido, para seu salvamento, viu-se o milagre: de um de seus galhos nasceu, firme, desesperada, uma raiz que alcançou a terra. E essa raiz fará renascer a velha Árvore das Lágrimas...
A árvore desempenhava o papel de marco de entrada e saída da capital paulista, pelo lado sul, e á era conhecida desde o século XVIII.
A seu lado havia um rancho para descanso de tropeiros que vinham, ou iam para Santos. Dizem que Dom Pedro I descansou à sua sombra, em 1822, quando estava a caminho da declaração da Independência do Brasil.
Joaquim José de França Júnior Advogado, jornalista e pintor em um artigo no jornal O Estado de São Paulo, de 22/08/1909 fala sobre a figueira e um costume que se existia e tornou-se tradição dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
"Havia à beira do caminho, duas léguas distante da cidade, uma arvore, depositaria das mais poéticas tradições. Sob sua copa frondosa reuniam-se bons companheiros e amigos para trocarem abraços na despedida. Quem ha por ahi daquella época que não se recorde com saudade da “ÁRVORE DAS LÁGRIMAS?” De quantos poemas não foi ella testemunha! Alli, com os olhos humidos ao deixar S. Paulo, disse o último adeus a esses bons camaradas, entre os quaes contava alguns amigos sinceros.
Em 1864 no início a Guerra do Paraguai, era ao lado da figueira que as mães, chorosas, se despediam dos filhos que seguiam para a guerra, motivo que levou a árvore a ficar conhecida como Figueira das Lágrimas.
A partir de 1867 a São Paulo Railway Company inaugurou a estrada de ferro ligando a capital ao litoral, a Figueira das Lágrimas passou por um período de esquecimento que perdurou até o início do século XX, porque as despedidas passaram a ocorrer na plataforma da Estação da Luz.
Em 1895, os franceses, Antoine, Ernest e Henry Sacoman, adquiriram aquelas terras e montaram a  Cerâmica Sacoman Frères – Ipiranga, a Figueira das Lágrimas ficava nessas terras.
Em 1909 a arvore foi mutilada talvez com a intenção de se construir no local o que gerou revolta da população que pediu intervenção da prefeitura para sua preservação, sensibilizados com os apelos populares, os proprietários da  Sacoman Frères  em dia 25 de agosto de 1910 manifestaram intenção de doar à municipalidade o terreno de 100 m² onde a árvore estava. 
A intenção de doação foi apresentada à Câmara de Vereadores em 27/08/1910, pelo vereador Mário do Amaral, no Projeto nº 42. Quase um ano depois, em 26/05/1911, pela Resolução nº 15, a Câmara autorizou a Prefeitura a receber a doação, foram mais nove anos até que a escritura fosse lavrada, o que aconteceu em 05/02/1920, depois disso, construiu-se um muro com grades em torno do terreno e colocou-se uma placa de bronze com a seguinte inscrição:
“Sou a árvore das lagrimas e das saudades. Sob minha sombra, corações sem número separaram-se afflictos. Aguias académicas, portadoras do saber, confiantes voaram para a vida. Represento passado glorioso. Recordo suaves tradições da brumosa paulicéa. Vi e admirei, vejo e admiro, hei de vêr e admirar a vertiginosa marcha triumphal do progresso paulistano. Viandante que me contemplas, descobre-te!”
No dia 20 de setembro de 1989, pelo Decreto nº 30.443, a figueira foi declarada Patrimônio Ambiental do Estado de São Paulo onde, de acordo com o artigo nº 16, ela fica imune de corte em razão de sua beleza e raridade.
Triste lembrar que alguns jornalistas  quando dela lembravam, era para descreve-la como empecilho ao desenvolvimento urbano.
Em 26 de julho de 2001, técnicos da prefeitura removeram tecidos necrosados do tronco da Figueira organensis. Em 2011, funcionários da prefeitura realizaram serviço de poda do Fícus Benjamina, removendo galhos que atravessavam e se sobrepunham a copa do exemplar Fícus Organensis. Também foi feita a adubação do solo.
Em 2016, a Figueira das Lágrimas foi tombada pelo CONPRESP, conforme Resolução nº 06.
Em 11/07/2019, o muro original que cercava o terreno onde ela se encontra, foi derrubado por uma obra da prefeitura que visava a revitalização do local.
A placa de bronze já havia sido roubada, provavelmente por conta do alto valor do metal, mas a árvore continua recebendo alguns cuidados das autoridades locais e o carinho de alguns paulistanos.
Em 2017 um "clone" da Figueira foi plantada na Praça da Paz no Parque Ibirapuera, produzido pelo Instituto de Botânica da USP.“Essa árvore é uma raridade que deve ser preservada. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente irá ajudar a recuperar a original e cuidar dessa nova muda, promessa do secretario.
Fonte: wikipedia Vejasp Ipiranganews
Fotos: 
Ricardo Domingues Pôssas, São Paulo Antiga Ipiranganews  


Coleção Martin Jayo. Cartão-postal da Figueira das Lágrimas mutilada por golpes de machado. 1909. 

 Acervo O Estado de S. Paulo; Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo.
À direita, cópia de exemplar d’O Estado de S. Paulo, 22 ago. 1909. À esquerda, cópia de uma das fotografias utilizadas para ilustrar o artigo. 


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Coleção Martin Jayo, Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo e acervo da autora.
Ela vista hoje 03/03/2020 no Google Maps.

                   Clone da Figueira das Lágrimas na Pça da Paz, no Ibirapuera






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