sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Beijo Eterno

 

Criada em 1922 como parte de um grande monumento em homenagem a Olavo Bilac (1865–1918), poeta parnasiano bastante popular no início do século 20.

O escritor e poeta, embora nunca tenha sido aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, chegou a assistir algumas aulas, e era muito popular entres os alunos, por ser um dos principais líderes do movimento nacionalista, na época da Primeira Guerra Mundial, considerado muito importante no país".

"Em 1915, Bilac chegou a fazer um discurso na faculdade que ficou muito famoso, emocionando as pessoas, lembrado e citado de cor por vários anos.

Com sua morte em 1918, um grupo de estudantes quiseram homenagear o poeta com um monumento público. 
Para isso, fizeram um financiamento coletivo para bancar o projeto, um conjunto de oito figuras: entre elas, Pátria e Família, O Caçador de Esmeraldas, e  O Beijo Eterno que é uma representação de um poema homônimo de Bilac.

Foi contratado o escultor sueco William Zadig, mais na parte final do trabalho, dinheiro para completar as estátuas estava acabando, mas foram socorridos pelo então presidente da Liga Nacionalista, Frederico Vergueiro Steidel. 
A entidade "passou o chapéu" no comércio paulistano e em redações de jornais para arrecadar o valor que faltava.

O colossal  monumento foi inaugurado na confluência das avenidas Paulista, Consolação e Angélica em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil.



A obra foi muito elogiada por quase todos os jornais da época, mais A Gazeta, iniciou uma campanha contra o monumento e pedindo inclusive sua demolição, alegando que ele não tinha qualidades estéticas.

Uma das criticas era o fato do escultor não ser brasileiro embora residisse aqui e fosse casado com uma brasileira, o nacionalismo estava em todas as discussões, inclusive na arte
influenciados pela Semana de Arte Moderna acontecida poucos meses antes(embora na época ela não tivesse a importância que recebe hoje).

A Gazeta afirmava com rasão que O Beijo Eterno não tinha qualquer relação com o famoso poema de Bilac, porque a estátua representava um encontro amoroso entre uma índia e um português, cena que não é citada em nenhum dos 59 versos da poesia.

Heloisa Barbuy, professora de museologia da USP, disse sobre a estatua: "Não se tem informação de que o artista queria retratar um beijo inter-racial entre uma índia e um branco, mas foi assim que a obra ficou conhecida. 
E isso foi tratado de maneira preconceituosa na imprensa. A Gazeta chamou a personagem de 'bugre', uma palavra pejorativa para se referir aos indígenas".

O monumento foi finalmente desmontado em 1935, quando a prefeitura mudou o trânsito na região, e algumas das peças foram levadas para outros pontos da cidade.

Por sua vez, O Beijo Eterno foi parar em um depósito da prefeitura, onde permaneceu por muitos anos.

Em 1953, quando assumiu a prefeitura, Jânio Quadros que conhecia a história de O Beijo Eterno, ele também estudou e se formou em Direito no Largo São Francisco, onde a estátua era célebre.



Segundo consta em uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a prefeitura tinha instalado, anos antes, a imagem na entrada do colégio estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, mais ela ficou na escola por pouquíssimo tempo, pois os pais dos estudantes se mobilizaram para retirá-la, com a alegação que a figura era "imoral".

Em 1956, Jânio manda a colocar no Bairro do Cambuci onde residia, mais novamente foi organizado um longo abaixo-assinado para que a obra fosse removida imediatamente do bairro, alegando que ela atentava contra os bons costumes, Jânio não resistiu à pressão e, O Beijo Eterno voltou ao depósito da prefeitura.

Dez anos depois da censura no Cambuci, em 1966, o então prefeito José Vicente Faria Lima decidiu instalar O Beijo Eterno na entrada do túnel da avenida 9 de Julho, no centro da cidade, mas houve nova resistência.



Em um discurso na Câmara, o sr Antonio Sampaio, dizendo-se portador de memorial assinado por senhoras residentes da 9 de Julho e membro da Arena (partido politico), solicitou a retirada da estátua, segundo o O Estado de S.Paulo em 8 de outubro de 1966. citando o vereador, a estátua constitui um 'verdadeiro acinte ao decoro e aos bons costumes do paulistano'".

Mais dessa vez, uma reviravolta selaria o destino da escultura: os estudantes da Faculdade de Direito decidiram agir, fretaram um caminhão, invadiram o espaço da prefeitura e furtaram a figura de bronze de 400 quilos.



Segundo o jornal Folha de S.Paulo  a história e  um pouco diferente: a estátua não chegou a sair da entrada do túnel, ela foi resgatada pelos universitários.

Ela foi instalada em frente ao campus, e os alunos ainda fizeram uma ameaça: se a estátua fosse retirada do Largo São Francisco, iriam cobrir com panos todas as outras representações de pessoas nuas que houvesse na cidade.


"Os estudantes se sentiram no direito de pegar a estátua, porque ela é um patrimônio da faculdade. Foi Largo São Francisco que financiou sua construção", diz José Carlos Madia de Souza, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP.



Depois do furto, O Beijo Eterno não saiu mais do calçadão em frente à faculdade: passou incólume até pela ditadura militar, que tinha uma máquina ativa de censura à liberdade de expressão e artística.



O Poema termina assim:

Quero um beijo sem fim

Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!

Beija-me assim!

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida!

Vive só para mim, só para minha vida,

Só para o meu amor!"

fontes: .bbc.com  terra.com

fotos: bbc.com spbairros



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